sábado, 13 de dezembro de 2014

Já é dezembro! Tá certo isso, produção?

E como num piscar de olhos, estamos em dezembro. Logo no início de dezembro sentimos uma queda na temperatura. Em Okinawa não neva mas por seu uma ilha, venta bastante. Então, apesar de não ser tão frio em Okinawa por causa dos ventos a sensação térmica é mais baixa. Já estamos em clima de Natal também, nada tão grandioso como a decoração da Avenida Paulista, mas as lojas já exibem suas decorações de Natal. 




Ao ver que minha última postagem foi no mês de julho, bate uma decepção comigo mesma. Gostaria de ter escrito muitas coisa nos últimos tempos, mas a quantidade de tarefas e desafios foi maior. No entanto,  acredito que os últimos meses foram bastante produtivos.


Irei retomar as postagens do blog, mas não em ordem cronológica. Fim de ano e com ele vem aquela vontade de olhar para o ano que passou e fazer reflexões sobre o próximo ano.  



Me aguardem, logo mais tem  coisa nova por aqui! ;) 

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Terra natal, noção de pertencimento e identidade

Caros leitores, há quanto tempo!

Já se passaram meses desde a minha última postagem. Peço desculpas. O intercâmbio está mais puxado do que eu imaginava, o que é ótimo. Sinto uma grande satisfação a cada dia que passa.

Esta semana acabam as aulas do primeiro semestre, então em breve, vou poder atualizar o blog, ou pelo menos assim espero.

Hoje gostaria de escrever um pouco sobre um assunto que me veio a mente por causa de uma matéria que vi no noticiário da manhã de hoje.

Essa matéria falava sobre uma cidade japonesa, situada na província de Fukushima,  chamada Ookuma. Como a maioria deve saber, Fukushima foi a província que sofreu com o problema da usina nuclear, devido ao terremoto de 2011. Bem, a notícia falava sobre o fato da cidade Ookuma ter sido evacuada e a preocupação dos pais com o fato de muitas crianças não conhecerem sua terra natal. A matéria mostrou que os habitantes de Ookuma realizaram um aula com o objetivo das crianças lembrarem  de sua terra natal (muitas não tem memória da cidade, pois erm muito pequenas quando moraram por lá) .

                                               
Fonte: http://ookumaoonosyou.blog.fc2.com/blog-entry-146.html

Quem já fez intercâmbio no Japão sabe a importância que eles dão para a palavra 出身, que eu vou traduzir como “procedência”. Aonde quer que você vá, eles perguntam de onde você veio. E sempre que se auto apresentam, os japoneses tem o costume de falarem de onde vieram.

Ao pensar nisso, eu  acho muito engraçado que nós brasileiros não damos tanta importância para a nossa procedência. Pelo menos no meu caso, o máximo que já aconteceu foi conversar com um brasileiro e comentar: “Ah, você não é de São Paulo, né? De onde você veio?”, mas nada muito mais profundo do que isso.

Quem já morou no Japão, já deve ter percebido que nos mercados geralmente a procedência de diversos produtos está sinalizada. Doces e produtos que usam ingredientes típicos da região também  estão sempre sinalizados, o que me faz sentir que os japoneses valorizam muito os produtos regionais.

    
 Lipton Ice Tea que usa um limão típico de Okinawa
        (Arquivo pessoal)

Apesar de ser um país com uma área pequena quando comparado com o Brasil, cada província do Japão possui suas peculiaridades e há também muitos dialetos. Sobre os dialetos (não incluo aqui a língua okinawana) , apesar de comumente usarem a língua japonesa padrão, eu sinto uma certa valorização e orgulho por parte dos japoneses com relação ao dialeto de sua região. Quando fiz intercâmbio em Osaka eu vi livros do tipo: 100 regras para você ser um verdadeiro “kansaijin”, livros de kansaiben (dialeto de Kansai) e por aí vai. No Brasil, será que veríamos um livro do mesmo tipo para um baiano, mineiro ou carioca?
Tudo bem, você deve estar se perguntando aonde quero chegar com tudo isso?

Para explicar isso, gostaria de falar sobre a minha primeira aula de folclore okinawano.  Na primeira aula o professor perguntou para a sala: “Quando perguntam sua procedência, o que você responde?”.


Então o professor fez uma lista:

1) O lugar onde você nasceu
2) O lugar onde você foi criado
3) O lugar onde seus pais nasceram
4) O lugar onde você mora atualmente

Então o professor pediu para que os alunos sinalizassem o que eles entendiam como procedência. As duas primeiras alternativas foram as mais escolhidas. Eu escolhia a primeira alternativa, pois sou nascida e criada em São Paulo.

O professor então explicou que não há um consenso quanto a definição de “procedência” nesse caso. Mas ele disse uma coisa que eu não me esqueço: “Quando você fala a sua procedência, essa é uma forma de você transmitir a sua identidade”.

Isso me fez lembrar do meu pai. Nascido em Lucélia, interior de São Paulo, mudou-se posteriormente para Dourados, no Mato Grosso e veio para São Paulo jovem, quando conheceu minha mãe. O apelido do meu pai é “Matão”, o que remete ao Mato Grosso do Sul. Não sei se todos sabem, mas no Mato Grosso do Sul (mais precisamente em Campo Grande) há muitos descendentes de okinawanos.  Então, quando eu era criança, eu sempre acreditei que meu pai tivesse nascido em Mato Grosso do Sual, mas só depois eu descobri que ele havia se mudado para lá ainda criança.

De modo análogo, vejo muitos descendentes de japonês que se auto denominam “japoneses”, sendo que muitas vezes não sabem uma única palavra em japonês e nem ao menos tem interesse em visitar a terra de seus antepassados. “Como pode uma pessoa se afirmar como japonesa sendo que nasceu no Brasil?” foi algo que se passou na minha cabeça por diversas vezes.

Não chega a ser uma conclusão mas, no Brasil, um país que abriga uma mistura racial de descendentes das mais variadas nacionalidades, há a necessidade de afirmar a sua identidade regional tão forte como a que há no Japão? Apesar disso, observa-se também uma perseguição a certos grupos étnicos/regionais, que me fazem pensar que infelizmente, apesar da diversidade tão característica do Brasil, ele é um país muito preconceituoso. Por exemplo, quantos muitas vezes negam sua origem, muitas vezes fazendo recorrendo a fonoaudiólogos para mudar a própria pronúncia? 

Operários - Tarsila do Amaral 
(Acervo do Governo do Estado de São Paulo)

Evidentemente, não estou afirmando que a  identidade regional é nula no Brasil. Já que muito da peculiaridade regional é transmitida nas artes e na culinária. 

Entretanto uma discussão que gostaria de ter é até que ponto a sua procedência influência no modo como você se afirma no seu cotidiano. Quanto da sua identidade está contida apenas no fato de você afirmar que você veio de uma determinada região. É uma questão profunda, da qual só me dei conta fora da minha terra natal.

Se me perguntarem a minha terra natal aqui, com certeza afirmarei: Brasil. Se perguntarem minha identidade, responderei: sou uchinanchu brasileira. Essa é uma conclusão que cheguei apenas depois de ter saído do Brasil.




E você, caro leitor? Qual a sua terra natal? 

sábado, 26 de abril de 2014

Você já ouviu falar de "shiimii" (シーミー)?

Caros uchinanchus, você já ouviu falar sobre shiimii(シーミー)?




Sinceramente, eu nunca tinha ouvido falar, ou se ouvi não dei a devida importância na época. 

Ouvi essa palavra pela primeira vez há algumas semanas atrás, quando conversava com uma amiga japonesa. Estava contando que no fim de semana eu teria um compromisso com um parente e ela me perguntou se eu iria fazer shiimii. Como não sabia o significado da palavra, ela me explicou que era uma visita ao túmulo dos parentes. 

A segunda vez que ouvi a palavra foi na aula de Folclore Okinawano, que assisto como ouvinte aqui na faculdade. O professor explicou brevemente sobre o evento e percebi que era algo um pouco além de uma simples visita ao túmulo dos antepassados, como eu havia interpretado. O texto abaixo foi baseado na explicação do professor e em alguns sites em fiz uma breve pesquisa. Caso percebam algum equívoco da minha parte, peço para que me reportem. As fotos que coloquei aqui são fotos que achei na internet, pois, infelizmente, não tive a oportunidade de participar do shiimii dos meus parentes. 

O shiimii é a palavra em uchinaaguchi (língua okinawana) correspondente a Seimeisai (清明際), e pode ser definido como um evento de celebração aos antepassados. É um evento que é realizado entre os membros da família e parentes, e ocorre todos os anos mais ou menos no meio do mês de abril (era um evento que ocorria no mês de março do antigo calendário), mas varia de acordo com a região e família, não havendo um dia específico. Mas, geralmente as pessoas fazem shiimii no fim de semana. Pelo que pesquisei há pequenas aldeias que definem um dia específico para celebrar o evento. Nesse caso, ele é  chamado de “Chumura shiimii” (チュムラシーミー).



O ritual consiste em fazer a limpeza do túmulo e oferecer comida aos antepassados. A oferenda é colocada em uma caixa de bentou preta chamada juubako (重箱). Dependendo da família a comida é preparada especialmente para o dia, mas também dá para encomendar a comida, como vocês podem ver no folheto abaixo. Além da comida, é também oferecido sakê, chá, flores e frutas.  





Costuma-se também queimar o que eles chamam de uchikabi (ウチカビ), que é um papel feito de colmo. Ele representa o dinheiro do “outro mundo”, e o costume de queimá-lo é para enviá-lo aos antepassados, para que eles possam “viver” do outro lado. Esse costume não é exclusivo de Okinawa, sendo também realizado em Taiwan, Singapura e China.





Depois de terminada a oração aos antepassados, os membros famíliares se reunem em frente ao túmulo para comer.  Quem olha do lado de fora, acha que está acontecendo um piquenique. Dessa forma, o shiimii não é somente considerado um evento para celebrar os antepassados, mas também um evento para estreitar ainda mais os laços familiares.


Um fato engraçado é que apesar de ser uma celebração típica de Okinawa, o shiimii não é realizado em toda Okinawa. A região sul da ilha principal de Okinawa é o local onde o ritual mais acontece, mas ao ir para o norte e às ilhas de Miyako e Yaeyama, percebe-se que o ritual não é celebrado. Isso tem uma razão histórica: o shiimii originalmente era um evento da realeza de Shuri e posteriormente foi difundido pelas famílias de samurais.


Depois de ouvir a aula do professor e ouvir de outras pessoas sobre o shiimii, realmente achei que é uma celebração muito significativa em Okinawa. 
Será que no Brasil há famílias que continuam a celebrá-la? Se sim, há diferenças? O que você acha, caro uchinanchu? 

Espero que tenham gostado. Até a próxima! 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Haitai! Olá!

Como acredito que todo o projeto deve ter uma introdução, eis a minha!

Primeiramente, devo me apresentar. Meu nome é Luzia Miyuki, sou bacharela e licenciada em Letras - Português e Japonês pela Universidade de São Paulo. Atualmente, sou estudante intercambista da Okinawa International University, onde ficarei por um ano estudando japonês e a cultura okinawana. Será um ano bastante proveitoso e espero conseguir transmitir um pouco do meu conhecimento neste blog.

Quem me conhece sabe que esta não é a primeira vez que venho para cá. No finalzinho de 2008 para 2009, por dois meses, fui bolsista kenshuusei da cidade de Naha, que é a cidade natal dos meus antepassados. Em 2010, pelo programa de Língua e Cultura Japonesa, tive a oportunidade de fazer intercâmbio na Universidade de Osaka, onde realizei uma pesquisa sobre o koronia-go (língua falada pelos imigrantes japoneses no Brasil). Nessa época também dei um pulo em Okinawa para reencontrar os meus amigos e parentes. Como vocês podem ver eu adoro Okinawa!

Das duas vezes em que estive aqui pensei em escrever um blog para escrever minhas impressões sobre a vida do outro lado do mundo. Infelizmente, o projeto nunca foi para frente por diversos motivos. Entretanto, desta vez quero fazer diferente.

Com este blog eu pretendo transmitir aos uchinanchus (descendentes de Okinawa) e ao máximo de pessoas possível a Okinawa que não conhecem (ou melhor, que a maior parte das pessoas não conhece). Quero que as pessoas tenham acesso à essa Okinawa que é tão distante geograficamente, mas que ainda tem suas raízes bastante firmes no Brasil. Quero que as pessoas conheçam mais a terra natal dos meus antepassados e não associem Okinawa apenas como um lugar com belas praias, povo alegre e outras coisas.

Dei ao  blog o nome de "Miifaiyuu" (ミーファイユー), que é o nome de uma música de um grupo okinawano famoso no Brasil, chamado Begin. Acredito que não seja uma das músicas mais famosas deles. Vocês devem estar se perguntando por que escolhi essa música para dar nome ao meu projeto?

Na língua de Yaeyama (ilhas que ficam ao sul de Okinawa), "Miifaiyuu"  (que também em algumas regiões é também pronunciado como "Niifaiyuu") significa "Obrigado". É com esse sentimento de agradecimento que gostaria de iniciar este projeto.Com o conhecimento adquirido nas aulas da faculdade e também com amigos e parente espero conseguir transmitir o máximo que conseguir.

Abaixo, segue o link do vídeo de Miifaiyuu: https://www.youtube.com/watch?v=oqJYvQQHNVU

Caso vocês percebam algum erro no meu blog, não hesitem em me avisar!
E agradeço a paciência, como vocês puderam ver, eu escrevo bastante. Até a próxima!