sábado, 26 de abril de 2014

Você já ouviu falar de "shiimii" (シーミー)?

Caros uchinanchus, você já ouviu falar sobre shiimii(シーミー)?




Sinceramente, eu nunca tinha ouvido falar, ou se ouvi não dei a devida importância na época. 

Ouvi essa palavra pela primeira vez há algumas semanas atrás, quando conversava com uma amiga japonesa. Estava contando que no fim de semana eu teria um compromisso com um parente e ela me perguntou se eu iria fazer shiimii. Como não sabia o significado da palavra, ela me explicou que era uma visita ao túmulo dos parentes. 

A segunda vez que ouvi a palavra foi na aula de Folclore Okinawano, que assisto como ouvinte aqui na faculdade. O professor explicou brevemente sobre o evento e percebi que era algo um pouco além de uma simples visita ao túmulo dos antepassados, como eu havia interpretado. O texto abaixo foi baseado na explicação do professor e em alguns sites em fiz uma breve pesquisa. Caso percebam algum equívoco da minha parte, peço para que me reportem. As fotos que coloquei aqui são fotos que achei na internet, pois, infelizmente, não tive a oportunidade de participar do shiimii dos meus parentes. 

O shiimii é a palavra em uchinaaguchi (língua okinawana) correspondente a Seimeisai (清明際), e pode ser definido como um evento de celebração aos antepassados. É um evento que é realizado entre os membros da família e parentes, e ocorre todos os anos mais ou menos no meio do mês de abril (era um evento que ocorria no mês de março do antigo calendário), mas varia de acordo com a região e família, não havendo um dia específico. Mas, geralmente as pessoas fazem shiimii no fim de semana. Pelo que pesquisei há pequenas aldeias que definem um dia específico para celebrar o evento. Nesse caso, ele é  chamado de “Chumura shiimii” (チュムラシーミー).



O ritual consiste em fazer a limpeza do túmulo e oferecer comida aos antepassados. A oferenda é colocada em uma caixa de bentou preta chamada juubako (重箱). Dependendo da família a comida é preparada especialmente para o dia, mas também dá para encomendar a comida, como vocês podem ver no folheto abaixo. Além da comida, é também oferecido sakê, chá, flores e frutas.  





Costuma-se também queimar o que eles chamam de uchikabi (ウチカビ), que é um papel feito de colmo. Ele representa o dinheiro do “outro mundo”, e o costume de queimá-lo é para enviá-lo aos antepassados, para que eles possam “viver” do outro lado. Esse costume não é exclusivo de Okinawa, sendo também realizado em Taiwan, Singapura e China.





Depois de terminada a oração aos antepassados, os membros famíliares se reunem em frente ao túmulo para comer.  Quem olha do lado de fora, acha que está acontecendo um piquenique. Dessa forma, o shiimii não é somente considerado um evento para celebrar os antepassados, mas também um evento para estreitar ainda mais os laços familiares.


Um fato engraçado é que apesar de ser uma celebração típica de Okinawa, o shiimii não é realizado em toda Okinawa. A região sul da ilha principal de Okinawa é o local onde o ritual mais acontece, mas ao ir para o norte e às ilhas de Miyako e Yaeyama, percebe-se que o ritual não é celebrado. Isso tem uma razão histórica: o shiimii originalmente era um evento da realeza de Shuri e posteriormente foi difundido pelas famílias de samurais.


Depois de ouvir a aula do professor e ouvir de outras pessoas sobre o shiimii, realmente achei que é uma celebração muito significativa em Okinawa. 
Será que no Brasil há famílias que continuam a celebrá-la? Se sim, há diferenças? O que você acha, caro uchinanchu? 

Espero que tenham gostado. Até a próxima! 

2 comentários:

  1. Amei Luzia!! Também me fiz a mesma pergunta. Como será que essa tradição ficou no Brasil? Olha, eu sei que todo mundo faz Obon e Tanabata. Mas em abril... nunca me falaram nada. Mas interessante que o calendário desses rituais vai aumentando né? Tem higan, agora tem shimi...de fato o culto aos antepassados é bem importante...aqui tem gente que faz no dia de finados também...tipo uma influencia católica. Só queria saber mais sobre os samurais okinawanos. Porque teve uma historicidade diferente do japão né? Eram do mesmo tipo, guerreiros, ou é um termo para designar nobreza? Você sabe se tem algum texto ( em inglês) sobre isso? Beijos e valeu o post!

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  2. Oi, Samara! Obrigada pelo comentário. Lembrei de você enquanto escrevia, inclusive.
    Sobre sua pergunta sobre os "samurais okinawanos", não sei se fiz uma tradução correta, mas acredito que sejam diferentes dos samurais japoneses. Estou fazendo aulas de história de Okinawa também. Estamos vendo as linhagens, está sendo um pouco difícil para mim, mas a medida que eu for me inteirando, vou publicando no blog. A ideia é que o blog seja um resumo do que estou estudando aqui.
    Livro em inglês, eu sei que tem Okinawa: The History of Island People", do George Kerr. Posso dar uma olhada na biblioteca daqui para ver se há outros, mas acredito que esse seja o mais conhecido.
    Você fez um outro comentário no post anterior, mas respondo aqui: eu não sei se o butsudan e o haka seriam considerados a mesma coisa. Acho que o haka seria mais a existência fisica, já que é onde se encontram os restos mortais e o butsudan, mais espiritual. Mas enfim, é uma observação leiga e posso estar viajando na maionese.
    Acredito que neste um ano que ficarei aqui eu consiga responder a essas perguntas. Se eu souber de algo te aviso! Bjos!

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